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quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Código ajuda a reduzir em 32% as mortes no trânsito

Dez anos depois da entrada em vigor do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), a taxa de mortes em acidentes no País caiu 32% - de 12,5 para 8,5 por 100 mil habitantes. Em números absolutos, porém, a média anual permanece no patamar de 35 mil mortes. Outras 400 mil pessoas ficam feridas em acidentes por ano, das quais 100 mil têm seqüelas permanentes.

O País tem um custo anual com os acidentes - material, em vidas perdidas e no tratamento das vítimas - de R$ 28 bilhões. “Os números de ocorrências de trânsito ainda são altos”, adverte Ailton Brasiliense Pires, presidente da Comissão de Trânsito da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP) e um dos autores do balanço sobre o código, divulgado ontem. “Sociedade e governantes optaram pela redução mais lenta possível.”

Apesar dessa avaliação, Brasiliense vê avanços. Mesmo com seu trânsito caótico, São Paulo tem hoje um índice de 2,8 mortes por 100 mil habitantes, o menor entre as capitais do País. Em países desenvolvidos da Europa, a taxa é de 2 mortes por 100 mil habitantes. No Japão, exemplo mundial de redução dos índices de mortalidade no trânsito, o índice é de 1,2.

Na avaliação de Brasiliense, dois fatores ajudam a explicar o bom resultado na capital: o trabalho dos agentes de trânsito, iniciado em 1991 e copiado por outros 800 municípios, e a conscientização da população. “Com 1/8 da frota nacional, São Paulo poderia registrar 12 mortes por dia se seguisse a tendência de outros Estados”, comparou Brasiliense. A média diária, porém, tem sido de 4 mortes - 2 de pedestres, 1 de ocupante de automóvel e 1 de motociclista ou carona.

Com 95% das certidões de óbitos do ano passado apuradas, o Ministério da Saúde projeta para 2006 um número absoluto maior de mortes, de 37 mil, ante os 35,9 mil casos de 2005 e os 35 mil de 2004. “Vejo agora tendência de estabilização após o aumento do número de casos em 2000”, afirmou ontem ao Estado a coordenadora de Informações e Análises da Secretaria de Vigilância em Saúde, Fátima Marinho.

Apesar de os atropelamentos serem a principal causa de mortes no trânsito no País, com 10.145 ocorrências em 2004, eles estão em queda. O que preocupa o ministério agora é o aumento dos acidentes de motocicletas.

“O código impediu que o Brasil se transformasse num imenso cemitério. Mesmo assim, são números indecentes se comparados aos de outros países”, disse Fábio Racy, presidente da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet).

Para o engenheiro Horácio Augusto Figueira, consultor em trânsito e transporte, o código está fadado ao fracasso caso as autoridades não revejam suas políticas de fiscalização. “O trânsito de São Paulo só mata menos porque não anda. A situação ainda é muito grave.”


Fonte: O Estado de S. Paulo


segunda-feira, 17 de setembro de 2007

ATO INSEGURO: O QUE HÁ POR DETRÁS DISSO?

Embora a área de prevenção de acidentes tenha nos últimos passado por
grande evolução existem ainda alguns pontos e algumas questões que carecem
de revisão ou atenção. Sem dúvida alguma a questão do ATO INSEGURO está
entre estas.

Por detrás deste termo oculta-se um universo de situações registradas
obscuramente e quase sempre com o objetivo de definir e transferir a culpa
para o acidentado. Do ponto de vista ético o uso inadequado do ATO
INSEGURO é uma lacuna vergonhosa na história da prevenção de acidentes e
que contribuiu demais para que muitos segmentos sociais vejam o SESMT com
maus olhos

Não bastasse isso um outro grande problema gerado pela mal uso diz
respeito a impossibilidade de gerarmos - a partir da caracterização
erronea das causas dos acidentes - programas capazes de fazer frente as
reais causas dos acidentes. Claramente falando fica evidente que as
medidas tomadas para evitar novos acidentes - a partir das clássicas
investigações - não são mais do que panaceias visto que não sabendo a real
causa certamente tudo que fizermos para corrigi-la será inocuo. Diante
disso algumas pessoas podem alegar que mesmo assim seus programas de
segurança apresentam resultados. Com certeza isso é verdade - em especial
porque a grande maioria destes programas diz respeito ao comportamento - e
mesmo que não atinjam diretamente as causas destes ou daqueles acidentes -
irão de alguma forma contribuir para a redução no geral. Poderiamos
chamar isso de prevenção de acidentes nor "atacado" , mas gostariamos de
lembrar que a investigação inadequada ou tendenciosa pode - digamos assim
- levar a acidentes mais graves no "varejo". Particularmente e pela
experiencia temo muito estes programas muito amplos que não contemplem
atenção especial a situações especificas. Penso que muitos deles conduzam
a "sensação de ambiente seguro" - ficando apenas na sensação. A realidade
mostra casos de muitas empresas - algumas delas com tradição em prevenção
de acidentes - onde registraram-se a ocorrência de sequenciais acidentes
graves mesmo estando dentro de poderosos e famosos programas de segurança.

Um ponto importante que também deve ser discutido diz respeito ao direito
do acidentado de conhecer a verdade sobre os fatos. Neste ponto há uma
mistura das mais complexas de ignorância, medo e culpa. Durante todos
estes anos tentei entender ou compreender o que vai dentro de uma pessoa
que tendo perdido uma parte de seu corpo ainda tenha que de alguma forma
assumir que o fato ocorreu por sua vontade e ação pura e simplesmente.
Penso que neste ponto estamos diante de uma das questões mais complexas do
universo da infortunistica laboral e de uma imensa divida social.

EXISTE ATO INSEGURO ?

Com certeza sim. A própria natureza humana e a capacidade de escolher ou
criar inerente ao ser humano acabam por possibilitar que certas atitudes
impliquem em alguma forma de insegurança. No entanto para chegarmos até
esta conclusão precisamos levar em consideração uma série de fatores. Um
erro, uma falha, uma atitude pura e simplesmente não podem por si
caracterizar um ato inseguro. Por detrás do AGIR há muitos fatores que
podem e DEVEM ser analisados.

Ato inseguro - na concepção mais justa da coisa - é uma conduta a partir
de uma decisão, escolha ou opção que desnecessariamente conduzam a
ocorrência de um acidente ou contribua direta ou indiritamente para que
ele ocorra. Vejam bem que as palavras ESCOLHA OU OPÇÃO ou
DESNECESSARIAMENTE são de suma importância nesta definição.

Não há coisa mais simples no mundo prevencionista do que atribuir a culpa
ao trabalhador. E como já foi dito acima - embora culpa não seja a palavra
mais adequada - ocorrem sim acidentes cujas causas estão diretamente
relacionadas a atitude do acidentado. Mas tenham certeza de que elas são
muito mais raros do que indicam tantas e muitas estatisticas que vemos por
toda parte.

Antes de chegarmos pura e simplesmente ao momento do acidente - ponto este
que a maioria dos prevencionistas utiliza para realizar sua investigação e
análise, precisamos entender uma série de coisas. A primeira delas diz
respeito a DECISÃO, ESCOLHA OU OPÇÃO. A pergunta mais simples - e também
mais polemica - é a seguinte: poderia o trabalhador decidir, escolher ou
optar por fazer de outra forma ? Na maioria dos casos veremos que não -
embora muitos que insistam em não enxergar a crueza e dureza das relações
de trabalho em nosso pais - dirão que sim. Muito do que ocorre de acidente
neste pais - tem como causa fatores já implicitos no proprio processo
formal das empresas - trata-se do errado que ao longo do tempo passa a ser
o obvio e normal. Um processo errado que tem em si uma série de condições
inseguras - que somente serão vistas por que de fato conheça os parametros
reais da prevenção. O fazer aquilo por si já é inseguro - porque seja o
metodo, seja o meio ou seja lá o que for não permite ou possibilita que o
trabalhador faça em condições normais sem expor-se ao risco. Seria um tipo
de condição segura inerente, encoberta pela falta de preparo e
conhecimento de pessoas que supostamente analisam estas atividades e as
tem como normais e possiveis de serem executadas sem acidentes. Dentro
deste universo por exemplo estão as questões do ritmo - um verdadeiro
fantasma na vida do trabalhador e muito bem caricaturado em um filmes do
genial Chaplin. Em tempos onde tanto se fala de ergonomia resta-nos a
esperança de um dia chegarmos a entender melhor esta relação homem x tempo
x trabalho e no futuro quem sabe - ouvirmos alguem atribuir a Deus a culpa
por ter criado um ser incapaz de acompanhar o ritmo definido sem qualquer
critério.

Deve ficar claro que o ATO INSEGURO existe quando o trabalhador pode
decidir pelo erro. Obvio que a decisão acertada carece de conhecimento
prévio - e portanto - a falta de treinamento ou preparo descaracterizam o
ato inseguro - visto que a decisão errada quando tomada por falta de
conhecimento independe do trabalhador. Para assimilarmos estes conceitos é
preciso na verdade revermos muito do que assumimos como normal e formal e
regressarmos as bases da relação do trabalho. Usar da mão de obra, dos
prestimos ou serviços de outro para obter resultados ou lucros - implica
na aceitação de teorias e normas da ética e do direito.

Um outro ponto importante a ser levado em conta diz respeito a realidade
social brasileira. Bem sei que tais analises são quase que impraticaveis
pelos SESMT - mas do ponto de vista do estudo, detectação e analise de
causas não devem ser desprezadas - sendo essenciais para a análise do
ponto de vista juridico. Refiro-me aqui a questão do temor reverencial -
ou seja - do medo que o trabalhador tem de seu superior por quanto é esta
a pessoa que pode decidir pela manutenção ou não de seu emprego e por
consequencia da própria subsistência e também a de seus familiares. Uma
das caracteristicas muito próprias da questão acidentaria brasileira diz
respeito a ausencia das garantias minimas sociais - ou seja - em nosso
pais a obtenção dos serviços básicos com qualidade e em tempo hábil está
diretamente associada ao emprego. Desta forma, antes de ser cidadão ou
mesmo para se-lo, parece ser imperativo estar empregado. Perder o emprego
significa perder a assistencia medica adequada, o transporte com
qualidade, o acesso ao credito, a moradia, a boa escola para os filhos.
Etc. Por esta razão parece obvio que o trabalhador brasileiro sujeite-se
mais aos riscos e perigos do que os trabalhadores do primeiro mundo - onde
a perda do emprego não sigfnifica uma ruptura de tal magnitude.

Falando do desnecessariamente nota-se que em algumas momentos isso
confunde-se com a decisão, escolha ou opção. Deve ficar muito claro que
não ERA PRECISO FAZER AQUILO que conduziu a ocorrência do acidente. Casos
como este são muito comuns nos acidentes ocorridos com pessoas com maior
grau de instrução e formação. São de fato verdadeiros atos inseguros,
porque as pessoas sabem como fazer, existem meios corretos e disponiveis -
mas optam - pelo uso do suposto conhecimento e outros motivos - por fazer
de forma diferente. Não se deve e nem se pode confudir o desnecessário
Teremos sim um ATO INSEGURO quando ficar patente que apesar de TODAS as
condições necessárias estarem a disposição do trabalhador - incluindo-se
aqui o conhecimento e a informação - Este por sua livre decisão optou por
fazer de forma diferente. ESTE SIM É O GENUINO ATO INSEGURO.

INDO UM POUCO MAIS ALÉM

Importante entender que a mudança da cultura em relação ao ato inseguro é
algo benefico para as empresas que realmente tem interesse em investir em
prevenção de acidentes e seus custos. Como já foi dito acima sem precisar
de fato as causas reais do acidente é impossivel trabalhar na direção
correta das ações que irão evitar novas ocorrências. Sem a realidade a
base do programa de prevenção estrá totalmente fora do foco correto e mais
uma vez recursos serão jogados for a.

Isso precisa ser explicado para a alta direção e principalmente para a
media supervisão das empresas. O que hoje é comodo e encerra o assunto -
ou seja - a atribuição dos acidentes ao trabalhador e a tentativa de
prevenção pelo convencimento (palestras, dialogos, dds, etc) na verdade
pode estar encobrindo problemas sérios que invariavelmente só vão ser
levados em conta quando do evento de uma perda ou morte. É preciso educar
as pessoas para encararmos a questão do acidente de frente e sem
subterfugios. Precisamos - e isso primeiramente nós do SESMT - deixarmos
de lado os velhores valores e informações quanto as causas dos acidentes -
e nos dedicarmos ao estudo tecnico e detalhado do assunto.

O que hoje apresentamos como resultados - em parte totalmente invalidos
devido a cultura do ato inseguro sem maiores criterios - se questionado
dificilmente teremos como responder. Vejo que em boa parte das empresas
adota-se após a investigação/análise a apresentação de graficos ou quadros
com as principais causas de acidentes. Confesso que durante muitos anos
venho esperando que um dia alguem questione: - Tudo bem, vocês da
segurança estão me dizendo que 85 % dos acidentes ocorrem pela distração
dos empregados. Qual a proposta para evitarmos isso ? Certamente ninguém
terá outra resposta - ou então cairemos mais uma vez nas velhas palestras
- embora a transferencia de conhecimentos não posso modificar nosso estado
de atenção.

Fica claro que a busca por solução reais - e talvez ai valorização para
nossa área - passa por uma revisão de conceitos e metodo de atuação. Se a
nossa área cabe apontar os caminhos que levam a prevenção - certamente só
estaremos proximos a estes quando ao menos soubermos porque de fato temos
acidentes. A mudança de cultura pode ser dolorosa, mas os resultados com
certeza serão muito mais seguros.


fonte: http://www.segurancamao.com.br/