Arritmias são mais comuns do que se imagina e, embora não apresentem grandes riscos na maioria dos casos, precisam ser cuidadosamente investigadas, principalmente por quem tem doenças cardíacas
Quem nunca notou o coração disparar de uma hora para outra? Ou, então, sentiu a pulsação do sangue no pescoço e até na cabeça? Pois é, as palpitações são mais comuns do que se pensa. Na verdade, segundo os especialistas, todo mundo, sem exceção, passou ou passará por essa experiência na vida, que tem o nome técnico de arritmia cardíaca... Mas, calma! Na maioria dos casos, o batimento do coração volta ao normal naturalmente. Isso, porém, não significa que as palpitações devam ser ignoradas. Pelo contrário, é importante reportá-las ao médico. Principalmente os homens acima dos 30 anos, que são mais propensos a apresentar a chamada arritmia cardíaca maligna - que afeta menos de 5% da população mundial, mas é uma das principais causas de morte na atualidade -, por questões hormonais, genéticas e alimentares.
"O coração humano normal apresenta de 50 a 90 batimentos por minutos (bpm), quando a pessoa está em repouso. Pulsações maiores (taquicardia) ou menores (bradicardia) do que estas caracterizam arritmia cardíaca", explica o cardiologista José Carlos Pachón, diretor do Serviço de Arritmia e Marcapasso do Hospital Edmundo Vasconcelos e do Hospital do Coração (HCor), em São Paulo. "Outro tipo de arritmia é o batimento cardíaco irregular", complementa o médico, que simula com as mãos sobre a mesa a pulsação desritmada: tum, tum-tum, tum, tum-tum...
O exame para avaliar a saúde do coração é rápido, indolor, não-invasivo e pode ser feito em qualquer consultório: o eletrocardiograma. Ele registra em um papel o sinal elétrico presente em cada batimento cardíaco. "Jovens saudáveis devem fazê-lo anualmente; idosos, semestralmente; e pessoas com doenças cardíacas, até trimestralmente, conforme orientação médica", indica Pachón.
No entanto, o melhor tratamento para as arritmias cardíacas é ainda a prevenção. Em outras palavras, não fumar, evitar o excesso de álcool, ingerir café e refrigerantes com moderação, abolir as drogas estimulantes e tomar cuidado com o estresse, além de não abusar de sal, açúcar e gorduras, e praticar atividade física regularmente, pelo menos três vezes por semana. Mas, para quem já apresenta o problema, existem abordagens terapêuticas que têm se mostrado eficazes no tratamento desse distúrbio.
Arritmias são mais comuns do que se imagina e, embora não apresentem grandes riscos na maioria dos casos, precisam ser cuidadosamente investigadas, principalmente por quem tem doenças cardíacas
OPÇÕES PARA TRATAR:
Os médicos costumam esperar que o organismo normalize os batimentos cardíacos naturalmente, o que acontece na maioria das vezes, principalmente em adultos jovens sem doença cardíaca, quando a disritmia não incomoda. Se o problema persistir, há três alternativas. A primeira delas seria os medicamentes antiarrítmicos, que costumam ser usados em casos de taquicardia. "Mas atenção: são remédios que têm efeitos colaterais importantes e podem até provocar uma arritmia se usados incorretamente"
ONDE SURGE O DESCOMPASSO:
Tudo começa no NÓ SINUSAL, chamado de marcapasso natural do coração. É desse ponto que são emitidos os impulsos elétricos que faz o músculo cardíaco se contrair e bombear sangue para todo o corpo.
O NÓ fica localizado na parte superior do átrio direito do coração. Ele é uma "bateria" com capacidade para durar, em média, 90 anos. Toda irregularidade no ritmo natural do coração é chamada de ARRITMIA.
As arritmias se definem segundo a velocidade dos batimentos (freqüência cardíaca):
* FREQÜÊNCIA NORMAL: 50 a 90 batimentos por minuto (bpm).
* BRADICARDIA (arritmia lenta): menos de 50 bpm.
* TAQUICARDIA (arritmia rápida): mais de 100 bpm.
O tipo mais grave é a FIBRILAÇÃO, quando se produzem batimentos rápidos e descoordenados.
Um outro tratamento é a chamada ablação por radiofreqüência. Um eletrodo, que é posicionado dentro do coração da pessoa, cura a taquicardia enviando sinais de rádio. "O interessante é que o indivíduo não precisa abrir o peito para a colocação do eletrodo. Ele é inserido por meio de uma microcirurgia, cujo acesso é pela perna", relata o médico José Carlos Pachón.
A última opção dos cardiologistas é o uso de um marcapasso, que é implantado sob a pele e, ao produzir estímulos elétricos cadenciados, recupera o ritmo do batimento do coração. Os aparelhos mais modernos pesam cerca de 20 gramas em média e têm validade de cinco a oito anos. A operação para colocação de um marcapasso dura, aproximadamente, duas horas e o paciente leva um corte de três centímetros no peito. O preço do dispositivo varia de R$ 5 mil a 100 mil.
E O DESFIBRILADOR?
Bom, ele somente é usado se houver risco de morte súbita - como uma parada cardíaca. Em resumo, o aparelho (instalado no peito da pessoa) emite um choque para que o coração volte a bater de forma ritmada. Nesses casos, o problema geralmente é causado por uma anormalidade dos músculos cardíacos que não conseguem bombear adequadamente o sangue para o resto do corpo.
CAUSAS MÚLTIPLAS:
As causas mais comuns de uma arritmia cardíaca em pessoas saudáveis são estresse, nicotina, álcool, cafeína e estimulantes diversos, como energéticos, descongestionantes nasais, remédios para emagrecimento e, um dos mais perigosos, a cocaína. Portadores de doença da tireóide ou síndrome metabólica, que inclui obesidade, diabetes, hipertensão e dislipidemia (colesterol ruim e triglicéride elevados), também fazem parte do chamado grupo de risco.Por fim, há as doenças cardíacas, como infarto e doença de Chagas.
A propósito, a arritmia cardíaca é uma das grandes inimigas dos atletas. O caso do jogador de futebol Paulo Sérgio Oliveira da Silva, o Serginho, do São Caetano, de São Paulo, que teve morte súbita em campo, durante uma partida em 2004, foi marcante. O atleta sofria de uma doença cardíaca que afetava o batimento de seu coração, principalmente durante a prática de atividade física. Ou seja, sua morte poderia ter sido evitada. "Se uma atividade esportiva for realizada por pessoas com graves problemas cardíacos e sem supervisão médica, ela vai oferecer mais riscos do que benefícios ao praticante", garante a cardiologista Denise Hachuel.
TESTANDO OS LIMITES DO ORGÃO:
É por sua capacidade de rastrear alguma anormalidade no músculo cardíaco que o teste ergométrico é decisivo para quem faz ou pretende fazer exercícios. Ele vai dizer se o coração da pessoa pode suportar esforço físico, em que intensidade e durante quanto tempo. Segundo os especialistas, o regime máximo que um coração deve pulsar durante a atividade é 220 bpm, menos a idade da pessoa.Ou seja, alguém de 40 anos não pode ter uma pulsação maior do que 180 bpm, ao praticar um esporte.
"Para medir o pulso, existem aparatos que devem ser presos ao corpo e mostram o resultado em um display. Um dos mais comuns é aquele cinto que é colocado entre o abdômen e o peito do atleta", exemplifica o médico José Carlos Pachón. "Ou, então, a pessoa pode tomar o pulso e contar durante um minuto. Mas isso requer alguma orientação."
Por outro lado, muitas pessoas têm sintomas agudos de arritmias, somente quando estão longe do consultório. Para esses casos, existem equipamentos capazes de monitorar a freqüência cardíaca durante 24 horas. Um deles é o Holter, aparelho portátil ligado a eletrodos adesivos que armazena, em fitas cassete ou memórias eletrônicas, os sinais elétricos do coração de modo contínuo, durante um dia inteiro. É como se fosse um eletrocardiograma de 24 horas.
Outro aparelho, desenvolvido pelo próprio José Carlos Pachón, é o chamado Web-Looper. O princípio é o mesmo, a diferença é que os dados não são gravados de forma contínua. Apenas quando o indivíduo sente a pulsação, é que ele aciona o dispositivo, faz a medição dos sinais elétricos e envia pela internet uma "fotografia" cardíaca dos instantes que antecederam e sucederam o sintoma, como se fosse uma mensagem de celular.
SINTOMAS ALÉM DA PALPITAÇÃO:
Existem outros sinais importantes da arritmia cardíaca. Os principais são: escurecimento da vista, tonturas, desmaios, palidez, sudorese, mal-estar, dor no peito, falta de ar, intolerância aos esforços, insuficiência cardíaca e morte súbita - que, embora tenha esse nome, é reversível em até 15% dos casos, ou seja, não significa necessariamente óbito. "Estes sintomas não são exclusivos das arritmias cardíacas. Por essa razão, é importante investigá-los e só quem pode fazer isso é um médico", recomenda José Carlos Pachón, que é também diretor do Serviço de Marcapasso do Instituto Dante Pazzanese. "Não dá para dizer que uma arritmia é benigna ou maligna apenas pelo sintoma..."
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