Levantamento da OMS aponta o consumo excessivo de álcool como responsável por mais de 10% dos problemas de saúde pública no Brasil.
Estudo realizado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), divulgado apenas nos meios científicos, revela que o alcoolismo já é a terceira maior doença no país. Só perde para os males do coração e os tumores. Os resultados do levantamento, feito no ano 2000, indicam também que 5,6% de todas as mortes de homens ocorridas no planeta e 0,6% de mulheres são atribuídas ao consumo de álcool. Em1990, a estimativa de mortalidade dos dois sexos em conseüência da bebida era de 1,5%, o que indica uma preocupante tendência de ascensão.
Analisando o estudo da OMS, os psiquiatras Ronaldo Laranjeira e Nino Meloni, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), chegaram à conclusão de que o alcoolismo é o principal problema de saúde pública no Brasil. Segundo o levantamento, mais de 10% de toda a mortalidade ocorrida no país é conseqüência do consumo excessivo de álcool.
Os médicos observam ainda no estudo da OMS que o volume médio de consumo individual é importante variável relacionada aos danos provocados pelo alcoolismo.
Consumo
Segundo Meloni, o Brasil é o quarto maior produtor de bebidas destiladas do mundo — o primeiro é a China, com 725 milhões de litros de baijiu produzidos por ano, seguida da Rússia, com 350 milhões de litros/ano de vodka. Dos cerca de 200 milhões de cachaça comercializadas por ano no Brasil, 195 milhões de litros vão para o mercado interno.
“Cruzados com dados da população brasileira, cuja densidade é inferior à asiática, os números, por si só, já são fortes sinais de alerta sobre o potencial de riscos”, diz. Com base no estudo da OMS, Meloni afirma que os problemas decorrentes do consumo de bebidas alcoólicas crescem na medida em que as nações se desenvolvem.
Segundo o psiquiatra, nos países ricos, embora a acessibilidade ao álcool seja grande, o consumo é moderado em razão de diversas formas de controle social, como normas de utilização da bebida, política de preços, controle promocional, uso educacional dos meios de comunicação, entre outros.
Já nos países de economia intermediária, como o Brasil, segundo Meloni, além de não existir controle para o consumo do álcool, há um conjunto de fatores que facilitam o acesso à bebida, principalmente entre os jovens. Um deles é o preço baixo, já que com R$ 0,50 é possível comprar, em qualquer bar, uma dose de cachaça.
Menores de 18 anos
Embora a venda de bebida alcoólica seja proibida para menores de 18 anos, estudo recente realizado pela Unifesp na cidade de Paulínia, na região de Campinas, revela que não é isso o que ocorre. Segundo o levantamento, 90,4% dos donos de estabelecimentos admitiram nunca ter checado a idade do adolescente antes de vender bebidas alcoólicas e outros 80% nunca pediram documento.
O médico Marcos Romano, um dos pesquisadores da Unifesp, afirma que outro dado surpreendente do levantamento é que 76% dos estabelecimentos não impõem nenhum tipo de controle à quantidade de bebida que um cliente pode consumir. Além disso, 52% dos comerciantes acham que não é responsabilidade sua se um consumidor se embriaga.
O estudo mostra ainda que a maioria dos bares tem clientela habitual e uma parcela significativa dela é formada por pessoas desempregadas. Outro dado assustador, na opinião de Romano, é que os estabelecimentos informaram vender mais de 15 mil garrafas por mês. Por conta dessa fiel clientela e do consumo elevado, os bares estão em expansão na cidade. O estudo revela que um terço dos estabelecimentos funciona há no máximo um ano.
Política pública
O estrago provocado pelo alcoolismo tem alto custo social no mundo todo. Especialistas afirmam que, no Brasil, as políticas públicas para controle do consumo da bebida não produzem o efeito desejado porque falta mobilização da sociedade.
“O Governo brasileiro não é um representante confiável para discutir a política de saúde pública para o álcool”, diz o médico Ronaldo Laranjeira. “Tanto que, em Genebra, durante reunião da OMS para tratar do assunto, em janeiro, o Brasil se opôs a adotar a medida mais efetiva para controlar o consumo da bebida, que é a elevação do preço”, comenta o especialista. “Essa atitude me deixa envergonhado, porque mostra que o interesse da indústria do álcool vem sendo contemplado”, observa Laranjeira.
Cristina Christiano
Diário de São Paulo
Estudo realizado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), divulgado apenas nos meios científicos, revela que o alcoolismo já é a terceira maior doença no país. Só perde para os males do coração e os tumores. Os resultados do levantamento, feito no ano 2000, indicam também que 5,6% de todas as mortes de homens ocorridas no planeta e 0,6% de mulheres são atribuídas ao consumo de álcool. Em
Analisando o estudo da OMS, os psiquiatras Ronaldo Laranjeira e Nino Meloni, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), chegaram à conclusão de que o alcoolismo é o principal problema de saúde pública no Brasil. Segundo o levantamento, mais de 10% de toda a mortalidade ocorrida no país é conseqüência do consumo excessivo de álcool.
Os médicos observam ainda no estudo da OMS que o volume médio de consumo individual é importante variável relacionada aos danos provocados pelo alcoolismo.
Consumo
Segundo Meloni, o Brasil é o quarto maior produtor de bebidas destiladas do mundo — o primeiro é a China, com 725 milhões de litros de baijiu produzidos por ano, seguida da Rússia, com 350 milhões de litros/ano de vodka. Dos cerca de 200 milhões de cachaça comercializadas por ano no Brasil, 195 milhões de litros vão para o mercado interno.
“Cruzados com dados da população brasileira, cuja densidade é inferior à asiática, os números, por si só, já são fortes sinais de alerta sobre o potencial de riscos”, diz. Com base no estudo da OMS, Meloni afirma que os problemas decorrentes do consumo de bebidas alcoólicas crescem na medida em que as nações se desenvolvem.
Segundo o psiquiatra, nos países ricos, embora a acessibilidade ao álcool seja grande, o consumo é moderado em razão de diversas formas de controle social, como normas de utilização da bebida, política de preços, controle promocional, uso educacional dos meios de comunicação, entre outros.
Já nos países de economia intermediária, como o Brasil, segundo Meloni, além de não existir controle para o consumo do álcool, há um conjunto de fatores que facilitam o acesso à bebida, principalmente entre os jovens. Um deles é o preço baixo, já que com R$ 0,50 é possível comprar, em qualquer bar, uma dose de cachaça.
Menores de 18 anos
Embora a venda de bebida alcoólica seja proibida para menores de 18 anos, estudo recente realizado pela Unifesp na cidade de Paulínia, na região de Campinas, revela que não é isso o que ocorre. Segundo o levantamento, 90,4% dos donos de estabelecimentos admitiram nunca ter checado a idade do adolescente antes de vender bebidas alcoólicas e outros 80% nunca pediram documento.
O médico Marcos Romano, um dos pesquisadores da Unifesp, afirma que outro dado surpreendente do levantamento é que 76% dos estabelecimentos não impõem nenhum tipo de controle à quantidade de bebida que um cliente pode consumir. Além disso, 52% dos comerciantes acham que não é responsabilidade sua se um consumidor se embriaga.
O estudo mostra ainda que a maioria dos bares tem clientela habitual e uma parcela significativa dela é formada por pessoas desempregadas. Outro dado assustador, na opinião de Romano, é que os estabelecimentos informaram vender mais de 15 mil garrafas por mês. Por conta dessa fiel clientela e do consumo elevado, os bares estão em expansão na cidade. O estudo revela que um terço dos estabelecimentos funciona há no máximo um ano.
Política pública
O estrago provocado pelo alcoolismo tem alto custo social no mundo todo. Especialistas afirmam que, no Brasil, as políticas públicas para controle do consumo da bebida não produzem o efeito desejado porque falta mobilização da sociedade.
“O Governo brasileiro não é um representante confiável para discutir a política de saúde pública para o álcool”, diz o médico Ronaldo Laranjeira. “Tanto que, em Genebra, durante reunião da OMS para tratar do assunto, em janeiro, o Brasil se opôs a adotar a medida mais efetiva para controlar o consumo da bebida, que é a elevação do preço”, comenta o especialista. “Essa atitude me deixa envergonhado, porque mostra que o interesse da indústria do álcool vem sendo contemplado”, observa Laranjeira.
Cristina Christiano
Diário de São Paulo
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