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terça-feira, 24 de março de 2009

Trabalhador da indústria não tem hábitos saudáveis

Ceará - No Ceará, dores na coluna, pressão alta, tendinite e depressão são os principais problemas de saúde dos trabalhadores da indústria, de acordo com o estudo "Diagnóstico de saúde e estilo de vida", recém-divulgado pelo Sesi Nacional.

Josué Mendes, 42, acorda todos os dias às 5h. Não sai de casa sem tomar café preto. Passa quase uma hora no ônibus antes de chegar à empresa em que trabalha como auxiliar de serviços gerais. Sente dores nas costas, mas nunca arranja tempo para reclamar. E nem para cuidar da saúde. “É muito puxado. Quando sinto dores nas costas, levanto um pouco, coloco as mãos na cintura e logo melhoro”, conforma-se Josué, dono de uma rotina exaustiva como a de tantos outros milhões de brasileiros. Muito do trabalhador Josué poderia ser o retrato do estudo “Diagnóstico de saúde e estilo de vida”, recém-divulgado pelo Sesi nacional.

O estudo aponta que no Ceará dores na coluna, pressão alta, tendinite e depressão estão entre os principais problemas de saúde enfrentados pelos trabalhadores. Em menor proporção, rins e diabetes também incomodam. Diagnóstico preocupante tendo em vista que 70% dos pesquisados não têm plano de saúde e 21,2% deles não vão ao médico há pelo menos um ano.

Atividade física também não é o forte do trabalhador cearense. Pelo estudo, 61,3% dos trabalhadores não praticam qualquer atividade física e 65,1% não consomem frutas e verduras diariamente. De acordo com Abelardo Rangel Parente Filho, gerente de Saúde do Sesi-CE, os resultados do Ceará se aproximam da média nacional, mas concorda que por aqui o sedentarismo consegue ser maior do que a média nacional. Como alternativa para reduzir índices negativos, Parente aposta na prevenção dentro das empresas. “Existem fatores que são culturais, mas é preciso apostar na prevenção. É importante orientar os trabalhadores sobre hábitos saudáveis a serem seguidos”, diz.

A médica Raquel Rigotto, professora do Departamento de Saúde Comunitária da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará, não chegou a ter acesso aos dados do estudo do Sesi, mas reforça conceitos de reestruturação produtiva e organização do trabalho. “A gente sabe que os trabalhadores estão submetidos a uma pressão muito grande. É um capitalismo avançado exigindo mais qualificação, cursos fora do horário de trabalho, pressões por horas-extras, ritmo de trabalho cada vez mais acentuado. Do ponto de vista da saúde coletiva, o que poderia estar sendo feito era uma ação política com o apoio até dos consumidores para modificar as relações de pressão que estão em vigor”, diz Raquel, complementando que as doenças que aparecem nos trabalhadores da indústria cearense com mais frequência prevalecem em boa parte da população que é trabalhadora.

Pesquisa

- O Diagnóstico de Saúde e Estilo de Vida do Trabalhador da Indústria traz informações sobre 355.858 trabalhadores de 2.463 indústrias brasileiras, sendo 1% micros, 12% de pequeno porte, 40% médias empresas e 46% grandes empresas.

- O objetivo é conhecer as condições de saúde e o estilo de vida dos trabalhadores.

- Foram levantados dados sociodemográficos, estilo de vida (atividade física, alimentação, consumo de álcool e tabagismo), presença de doenças crônicas não-transmissíveis (hipertensão, diabetes, obesidade e câncer), avaliação da qualidade de vida, presença de distúrbios de ansiedade e depressão, detecção de obesidade, medida da pressão arterial, da glicemia (quantidade de açúcar no sangue) e exame odontológico.


- Os trabalhadores responderam a 90 perguntas, cujas respostas foram coletadas por entrevistas.

- No Ceará, o trabalho envolveu 42.336 trabalhadores.


Fonte: O Povo - 4/3/2009

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