Entre o perigo e o gosto pela profissão Altura, produtos químicos inflamáveis e eletricidade são fatores de risco
Tem um ditado popular que diz que "trabalho é meio de vida e não de morte". Mas ao referir-se a algumas atividades profissionais, o sentido dessa frase pode muito bem ser invertida. Aqueles que trabalham com altura, eletricidade, produtos químicos inflamáveis e ondas ionizantes estão diariamente sujeitos a acidentes do trabalho, que causam em torno de 2 milhões de mortes a cada ano em todo o mundo. De acordo com dados da Previdência Social, no Brasil, acontece um acidente a cada hora. Ao todo são 491.711 acidentes por ano, com 2.708 mortes.
Depois de presenciar a morte de um funcionário, o empresário Eudes Ferreira de Santana, que trabalha com construção de edifícios há 20 anos, chegou a pensar em desistir da profissão. "Era fim de expediente e eu já tinha ido embora da obra. Me ligaram avisando que Lázaro tinha caído de uma altura de 30 metros. Voltei correndo e ainda cheguei a tempo de vê-lo dar o último suspiro. Foi horrível. Fiquei três meses afastado e só voltei porque vi que não sei fazer outra coisa. Até hoje não superei essa perda", relembrou.
Eudes contou que sempre teve medo, mas depois desse acontecimento ficou ainda mais cauteloso. Ele acredita que, para evitar uma fatalidade como esta, é imprescindível que todos os equipamentos de segurança estejam em boas condições e que todas as precauções seja seguidas à risca. "Vejo muitas irregularidades nas obras da cidade. Acho que quem tem medo não morre, porque se previne mais. Na minha firma, o operário trabalha como ajudantes por cerca de 2 anos para depois começar a se arriscar de fato", ressaltou.
Francisco de Assis Ávila Faria, 28 anos, que trabalha há 8 anos com eletricidade, pensa de outra forma. "Acho que quem tem medo não deve trabalhar em atividades de risco. A partir do momento que você sabe o que está fazendo, não precisa se atemorizar", enfatizou. Francisco, que trabalha diretamente com equipamentos de alta tensão e todos os dias corre o risco de choque e de explosão, atribui essa tranqüilidade e confiança aos constantes treinamentos e procedimentos de segurança que a empresa adota. "Acho que está em meu sangue. Sou apaixonado pelo que faço", complementou.
Segundo o engenheiro de Segurança do Trabalho, Ricardo Ochoa, a única forma de evitar acidentes em funções de alto risco é a implementação de um eficaz programa de segurança, que ainda não é prioridade em todas as empresas. "Apesar de alguns empresários já estarem dispostos a pagar um pouco mais em equipamentos seguros, já que os gastos com um acidente de trabalho (indenizações exigidas) são altos, nem todas as fábricas adotam o programa. Existe um mito de que ele custa caro e não dá retorno em curto prazo", avaliou.
Inspeções apontam irregularidades
As normas regulamentadoras da segurança no trabalho, definidas pelo Ministério do Trabalho e baseados na lei, exigem a adoção desse programa e de técnicos que realizem fiscalizações para verificar se os estabelecimentos respeitam as exigências. Apesar de não haver estatísticas específicas para Uberlândia, o subdelegado da Delegacia do Trabalho, Sebastião Alves da Silva Filho, afirmou que nenhuma empresa da cidade está em total conformidade. "Recebemos cerca de 120 denúncias por mês e as inspeções sempre apontam algum item irregular", confirmou.
Ricardo Ochoa afirmou que é essencial fazer adaptações no ambiente de trabalho e realizar treinamentos contínuos com os funcionários, que devem utilizar equipamentos de segurança individual que algumas funções exigem. "É essa a função exercida pela equipe que compõe o programa de segurança. O primeiro passo é fazer o levantamento de todas as atividades, avaliação dos riscos e posteriormente a prevenção", explicou.
Ele citou o exemplo da construção civil, uma das áreas onde ocorre o maior número de acidentes, já que não existem cursos específicos para capacitação profissional. "A única forma de aprender é se aventurando e adquirir experiência com o tempo. Daí a importância de contratar profissionais que entendem do assunto, no sentido de selecionar pessoas aptas para exercer a função", destacou Ricardo Ochoa.
César Romero Costa, 49 anos, trabalha no ramo de abastecimento de botijões de gás há 28 anos. Começou como entregador e, naquela época, tinha medo até de carregar o objeto. Hoje é encarregado de plataforma e, mesmo correndo risco de explosão e incêndio, gosta do que faz e não tem medo. "A empresa respeita as normas de segurança e temos treinamentos com o Corpo de Bombeiros constantemente. Os riscos de acidente são mínimos", opinou.
Fonte:MANUELLA GARCIA - manugarcia@correiodeuberlandia.com.br
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