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quinta-feira, 25 de junho de 2009

Cresce atendimento a crianças queimadas em acidentes domésticos




Enquanto o leite para a mamadeira de Adri esfriava na panela, Katiane Cristina Pereira, de 18, aproveitou para adiantar o serviço e foi lavar as louças. O que ela não esperava é que o filho, de apenas 1 ano e 5 meses, viria no recipiente um brinquedo convidativo. Em questão de segundos, a criança se esticou toda e puxou a vasilha com o leite quente, que derramou sobre parte de seu rosto, do ombro e do braço direitos. Há 17 dias, o menino está internado no Hospital de Pronto-Socorro João XXIII (HPS), com queimaduras de primeiro, segundo e terceiro graus, e teve que passar por enxerto. “Ele não parava de gritar de tanta dor. Nunca ficava perto do fogão e fez isso no dia em que o leite estava quente”, lamenta a mãe.

Estatísticas do HPS mostram que, assim como o caso de Adri, 52% dos atendimentos no hospital são de acidentes domésticos (80% deles na cozinha) e, em 43% do total, as vítimas são crianças de até 10 anos. Para mudar essa realidade, a Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), o Corpo de Bombeiros (Cobom) e a Associação Médicos do Barulho, grupo de teatro que leva diversão a pacientes hospitalizados, promoveram ontem uma ação educativa, orientando a população sobre como evitar queimaduras, que crescem com a chegada das férias escolares, do frio e das festas juninas. Os doutores palhaços circularam com panfletos nas proximidades e nas dependências do pronto-socorro.

Nesta época do ano, o HPS registra aumento de 17% nos atendimentos a queimados, o que representa, diariamente, 17 pacientes além dos 100 habituais. Ano passado, o Cobom atendeu 377 ocorrências envolvendo queimaduras. De acordo com o coordenador da clínica de cirurgia plástica e queimados do João XXIII, o médico Carlos Eduardo Leão, a queimadura se tornou um problema cultural. “As pessoas acham que não há perigo em casa, onde encontramos panela no fogo, tomada sem proteção e até lamparina acesa. A maioria dos acidentes é perfeitamente evitável e a queimadura, por menor que seja, é para sempre”, alerta. Segundo ele, o principal vilão é o álcool líquido, usado para acender fogueiras e churrasqueiras. Substituível por álcool em gel ou sólido, o produto causa, geralmente, as feridas mais graves.

Quinta-feira da semana passada, o traiçoeiro álcool líquido deixou Nathália Alves Gondinho, de 11, com o rosto, o braço e o peito queimados. Numa brincadeira inocente, o irmão jogou o combustível no fogão a lenha, enquanto a mãe cozinhava. “O vento jogou o vapor em mim. Comecei a tentar apagar e minha mãe correu comigo para o hospital”, lembra. Em companhia da tia Valéria Cristina Carrano, de 32, Nathália, que mora em Divinópolis, está internada no HPS, mas, apesar da visita inesperada dos Médicos do Barulho, não vê a hora de voltar para casa. “Vou direto ver a minha avó”, diz. O funcionário público Pedro Alves, de 54, recebeu dicas da campanha e lembra que quando os três filhos eram crianças tomou medidas radicais para evitar o problema. “Isolei a área da cozinha do resto da casa com cancelas.”

Segundo Carlos Eduardo Leão, entre adultos, 16% dos casos de queimaduras se referem a tentativas de autoextermínio ou de fanatismo de seitas religiosas que pregam o poder purificador do fogo. Ele explica que queimaduras de primeiro grau são causadas, geralmente, por excesso de exposição ao sol. As de segundo grau causam bolhas e devem ser tratadas clinicamente. As mais graves, de terceiro grau, queimam, além da pele, os nervos e, por esse motivo, não doem. Para alertar as crianças sobre a prevenção de queimaduras, a Fhemig, junto com o cartunista Maurício de Sousa, lançou, em 2008, a revista Turma da Mônica focada no tema. “Distribuímos a todos os alunos de escolas públicas. Assim, a prevenção se tornou tema curricular”, afirma Leão.

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