"Não se preocupem. No verão não é época de gripe suína", disseram os médicos à família do universitário Wagner Colini Boy, de 29 anos. O ledo engano foi um dos motivos que levaram Wagner a morrer na segunda-feira em decorrência da doença, tornando-se a segunda vítima do influenza A (H1N1) em Minas Gerais este ano. Revoltados com a lentidão dos diagnósticos e com a falta de preparação da classe médica que atendeu Wagner, parentes do universitário desabafaram durante o velório, que ocorreu terça-feira no Cemitério do Bonfim, na Região Noroeste, e contaram que até mesmos os infectologistas confessaram a eles não saber nada sobre o vírus. "Foram 28 dias de tortura. Ele esteve em vários hospitais particulares, onde disseram que os sintomas não passavam de uma gripe comum. Somente depois de ter sido internado no CTI, em estado grave, que o H1N1 foi diagnosticado. Mas foi tarde demais", lamenta a contadora Elizabeth Colini, prima-irmã de Wagner.
Com muita tosse, febre e diarreia – principais sintomas da gripe suína –, Wagner, que cursava contabilidade na PUC Barreiro e, segundo familiares, tinha uma vida saudável e nem sequer gripava, passou por cinco hospitais particulares, onde médicos o mandaram voltar para casa com diagnóstico de gripe sazonal. "Eles descartavam a hipótese de ser o novo vírus", lembra, indignado, o administrador José Aluísio Vieira, parente do jovem. De acordo com ele, os primeiros sinais de que doença teria atingido Wagner começaram em 16 de janeiro, mas somente no dia 23, com a intensificação dos sintomas, que o universitário foi internado às pressas.
"No dia 25, ele foi para o CTI em coma", conta José Aluísio, acrescentando que, ao ser internado, foi feito o exame para a gripe suína. "Mas o resultado foi indeterminado. Como isso pode ocorrer? Somente no segundo exame, quando ele já estava em estado muito grave, que o outro teste deu positivo para o H1N1", lembra Elizabeth, contando que o rapaz tomou o medicamento Tamiflu, mas de nada adiantou. "O vírus atingiu o pulmão, fazendo com que ele tivesse muita dificuldade para respirar. Ele foi entubado, mas morreu ao ter uma parada cardíaca", acrescenta a prima-irmã do universitário, com a certeza de que o mal silencioso pode ser pior se pensarmos que ele acaba no verão.
De acordo com o presidente da Sociedade Brasileira de Virologia, Paulo Roehe, o vírus não foi embora, só houve uma diminuição na incidência dos casos. "No inverno, o fato de as pessoas ficarem mais próximas umas das outras faz com que a transmissão ocorra mais facilmente. Mas aquele que não teve contato com a doença em 2009 corre risco de se infectar. Os que passaram pela doença estão imunes a ela", diz, acrescentando que é uma ilusão pensar que a gripe A só surge em determinada estação. "Se fosse assim, o pessoal do Alasca (EUA) viveria gripado."
Segunda onda
Dos três casos confirmados do vírus em Minas em 2010, dois foram a óbito.
Além do universitário, no sábado a gripe matou uma belo-horizontina de 30 anos, que contraiu a doença em Carajás (PA), onde trabalhava. Ela veio a Belo Horizonte para se tratar e acabou morrendo em um hospital particular da capital. Ainda que as mortes não sejam consideradas por profissionais da saúde como um sinal de que a segunda onda do Influenza A já bate à porta do estado, autoridades se mobilizam para enfrentar os novos casos que poderão surgir.Nesta quarta e na quinta, técnicos da Secretaria Municipal de Saúde (SMSA) se reúnem com profissionais da saúde para informar sobre a vacinação que começa no dia 8. A expetativa é de que 1,3 milhão de belo-horizontinos sejam vacinados. "Esta semana vamos cadastrar os profissionais de saúde, que vão ser os primeiros a ser imunizados. A ideia é organizar a aplicação da injeção para que o atendimento nos postos e nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) não seja comprometido", ressalta o secretário adjunto da SMSA, Fabiano Pimenta.
Na semana que vem, a Secretaria de Estado de Saúde (SES) volta a acionar o Comitê Estadual de Enfrentamento ao Influenza A (H1N1), que foi criado no ano passado por causa da epidemia, e chegou a se reunir semanalmente. Este ano, as reuniões vão ocorrer, em princípio, a cada 15 dias, para que as autoridades possam avaliar os quadros clínicos da doença no estado. A preocupação não é em vão.
Nada menos do que 1,7 mil pessoas morreram em decorrência do H1N1 no ano passado em todo o mundo; em Minas, foram 145 pessoas que perderam a vida.Fonte: Luciane Evans Publicação: 24/02/2010 06:51 - Estado de Minas
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