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quinta-feira, 27 de março de 2008

Mulheres bebem mais e morrem mais

Médico associa alcoolismo feminino ao aumento de acidentes no trânsito

O aumento do alcoolismo entre as mulheres, principalmente jovens, pode fazer com que elas passem a causar - e ser vítimas - cada vez mais acidentes de trânsito. A presença feminina nas estatísticas de mortes no trânsito no Brasil cresce há cinco anos, período semelhante em que se comprovou o aumento da dependência pelo álcool.

“A quantidade de álcool ingerida por mulheres aumenta muito e em idades cada vez mais precoces”, diz o médico Sérgio Duailibi, da Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas (Uniad), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Para ele, o envolvimento feminino em acidentes é uma tendência.

Na noite do último domingo, dia 10, cinco meninas de 17 a 28 anos morreram e duas ficaram feridas num acidente na estrada Joel Hermenegildo Barbieri (Pedreira). Elas voltavam de uma festa de aniversário em Mogi das Cruzes e seguiam para Santo André, onde três delas moravam, quando bateram de frente em um caminhão. No carro, havia garrafas de cerveja vazias. À Polícia, a aniversariante disse que as amigas haviam “bebido socialmente”. Em um mês, um laudo revelará se a bebida teve relação com o acidente.

Dependência

Levantamento do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), da Unifesp, aponta que o alcoolismo entre meninas de 12 a 17 anos quase dobrou de 2001 para 2005 - de 3,5% para 6% do total. Entre as jovens de 18 a 24 anos, o porcentual subiu de 7,4% para 12,1%. No caso dos homens, o crescimento foi menos significativo: de 6,9% a 7,3% (de 12 a 17 anos) e de 23,7% a 27,4% (18 a 24 anos). No Sudeste, para jovens de 12 a 17 anos, a situação é inusitada: 6,4% delas são dependentes, contra 4,9% dos meninos.

Apesar do índice de mulheres em acidentes de trânsito fatais ser menor do que de homens, em números absolutos, desde 2001 a quantidade de vítimas do sexo feminino aumenta em proporção maior do que as do masculino. Em 2001, 25.335 homens morreram no trânsito e, em 2005, foram 29.798 - aumento de 17,6%. Já entre as mulheres, o salto foi de 19,8% no mesmo período, passando de 5.682 para 6.805 vítimas fatais.

“O número mulheres que bebem e dirigem sempre foi menor que o dos homens, mas aumenta”, disse o coordenador da Uniad, Ronaldo Laranjeira. Pesquisa da Uniad, ainda inédita, abordou 2.500 motoristas no trânsito da capital, em noites de sexta-feira, para checar, com exame de bafômetro, se estavam embriagados. Resultado: 39% haviam bebido antes de dirigir e 20% tinham níveis de álcool no sangue acima do permitido por lei. “O número surpreendeu muito. Em pesquisas semelhantes feitas no exterior, esse número gira em torno de 1%”, afirmou Duailibi. “Não há fiscalização. Durante a pesquisa, não encontramos policiais”, disse Laranjeira.

Mulheres bebem tanto quanto os homens

Quando o assunto é cerveja, desigualdade entre homens e mulheres é coisa do passado. Levantamento da Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas (Uniad), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), divulgado em 2006, mostrou que 73% dos entrevistados, tanto homens quanto mulheres, haviam consumido grande quantidade da bebida em pouco espaço de tempo no último ano.

A pesquisa também mostrou que as mulheres superam os homens quando a bebida em questão é o vinho: 19% delas haviam tomado um “porre”, contra apenas 9% deles. Os homens mantêm o posto de beberrões absolutos apenas com os destilados. No período analisado, 17% deles exageraram na bebida contra 4% delas. Foram entrevistadas 3 mil pessoas.

Trauma

Sobrevivente do acidente, Tamires Gomes Navarro, de 18 anos, não consegue se lembrar da noite da tragédia. A família decidiu, então, não contar à menina sobre a morte de sua prima, Narel Pereira de Moura, de 17 anos, e das amigas. Das sete que estavam no Fiat Siena, somente ela e Jéssika Zopolato Mendes, de 25 anos, saíram vivas. Tamires sofreu politraumatismo, passou por duas cirurgias e, até a noite de sexta-feira, continuava internada.

Consciente, sua primeira pergunta à mãe, Marli, foi onde estava Narel. Preocupada com a filha, Marli disse apenas que a prima estava “sendo atendida”. “Elas eram como irmãs”, diz o tio, Fabio Rodrigo de Souza. Segundo o irmão, Israel, Tamires “não se lembra de nada, desde que deixou a festa”. No acidente, também morreram Liliane Assunção Miguel, de 28 anos, que dirigia o carro; Jéssica Cancer, de 22; Suelen Ferreira, de 24; e Alexandra Machado, de 27.

“Não eram de fazer besteira. Gostavam de festa e música como todos os jovens”, diz o tio. No carro, além de garrafas de cerveja, havia um violão. Segundo o delegado Jorge Luis Esteves, que investiga o acidente, elas haviam conhecido a aniversariante uma semana antes, no carnaval, em Caraguatatuba.

Fonte:
Fonte: O Liberal/PA

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