Júlio César Vasconcelos
Falar de acidente de trabalho é falar sobre preservação da vida do ser humano. O Brasil está entre os países com maiores índices de mortes por acidentes do trabalho no mundo, ficando atrás da Índia, Coréia do Sul e El Salvador. Em 2004, cerca de 2.800 trabalhadores perderam a vida. Afinal, surge uma pergunta que não quer calar: de quem é a culpa por essa tragédia? O que deve ser feito para reverter este quadro?
A vida nos oferece algumas lições que, com um pouco de reflexão, pode nos ajudar a raciocinar sobre este fato. Uma experiência vivida por mim durante a década de 90, quando trabalhava no norte do Estado do Pará, talvez sirva de exemplo e possa corroborar.
A história começa com um passeio de barco pelo Rio Trombetas. Esse é um rio de águas profundas, que em alguns locais chega a atingir cerca de 60 metros de profundidade e as margens se distanciam tanto que fica difícil de enxergá-las.
O transporte era um barco de médio porte que pertencia a um amigo de trabalho e tinha capacidade para 20 passageiros. Logo que deixou o porto, eu e alguns amigos acomodamo-nos confortavelmente na proa e começamos a relembrar alguns “causos” mineiros, degustando uma cerveja gelada e apreciando a beleza da paisagem. Depois de algum tempo, de repente, ouvimos um barulho estranho no compartimento do motor e um grito lancinante do barqueiro ecoou pelo ar:
- O barco está afundando!
Saímos correndo assustados em sua direção e no nosso atropelo percebemos que estávamos com os pés molhados e que a água que invadia o barco já começava a tomar conta do casco. A ventoinha do motor, com seu movimento de rotação, formava um enorme chafariz jorrando água para todos os lados.
O grito do barqueiro ecoou novamente de maneira cortante pelo ar, ditando ordens para todos nós, ainda meio embasbacados:
- Atenção! Se não agirmos rápido, o barco vai afundar e estamos todos perdidos, pois vocês não sabem nadar e não temos coletes salva-vidas no barco. Portanto, obedeçam às minhas ordens!
Imediatamente, em tom firme, dirigiu-se a cada um de nós:
-Você, veja se consegue descobrir por onde a água está entrando e tente vedar. Você, assuma o controle da bomba de exaustão. Vocês dois, apanhem aqueles baldes e comecem a jogar água para fora. E você, venha me ajudar a virar o leme e tentar levar o barco para a margem.
Sem tempo nem para pestanejar, saímos todos correndo, cada um assumindo seu posto, segundo a orientação que nos tinha sido repassada. De maneira intensa e ininterrupta, cada um cumpriu sua tarefa, exatamente conforme tínhamos sido orientados. Em pouco tempo conseguimos aportar e pulamos rapidamente para a margem. O barco foi afundando lentamente até se estabilizar, metade submersa e outra fora d’água. Ficamos por ali um bom tempo observando a cena e meditando sobre a tragédia da qual tínhamos escapado.
Voltando ao nosso quadro acidentário, que lições podemos tirar desse fato? Afinal, o que tem a estória do barco com o acidente do trabalho?
Lição primeira: prevenção em primeiro lugar! Não inspecionamos o barco antes de entrar; o furo já existia! Com certeza, com uma boa inspeção poderíamos tê-lo detectado. Você inspeciona seu equipamento ou veículo antes de iniciar seu trabalho? Cuidado por que você pode estar entrando em “barco-furado”.
Lição segunda: procure a causa fundamental do problema! Após orientados, um de nós ficou encarregado de descobrir o furo e tentar vedá-lo, para, com isto, impedir a entrada de mais água no barco. Você procura saber a razão dos acidentes acontecerem na sua área? Se não, procure, por que não adianta ficar sempre “tirando água de barco furado”.
Lição terceira: utilize sempre os equipamentos de proteção individual. Por que o barco não tinha coletes salva-vidas? Depois do fato, descobrimos que o barco estava sendo vendido, por isto os coletes tinham sido retirados; conseqüentemente quase morremos afogados. Você utiliza seus EPI’s de maneira adequada? Cuidado! Pois se você se esquecer deles pode “morrer afogado”.
Lição quarta: cumpra os procedimentos. Obedeça às lideranças. No auge da crise, o cumprimento estrito e imediato das orientações do barqueiro foram fundamentais. Você conhece e cumpre seus procedimentos operacionais? Obedece às orientações de seu líder imediato? Se não, repense seus atos, porque o “barco pode afundar”.
Lição quinta: trabalhe em equipe. Quando orientados pelo barqueiro, cada um de nós assumiu o comando de sua parte. O trabalho uniforme e sintonizado levou o barco para a margem sem afundar. Você trabalha em harmonia com seus colegas de trabalho? Pense sobre isto, pois como demonstrado, é isto que não deixa “o barco afundar”.
Última lição: trace um objetivo e acredite no que faz. O barqueiro tinha uma visão, uma meta: atingir a margem. Olhamos juntos para o mesmo lado e juntamos todos os nossos esforços para chegar lá. E chegamos! Você sabe aonde quer chegar?
A lição fundamental é bem simples, basta assumir que a sua segurança e de seus colegas de trabalho sempre vão estar em primeiro lugar. Basta assumir o compromisso com você mesmo de que, não importa o que aconteça você vai retornar inteiro para casa depois da sua jornada de trabalho.
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