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domingo, 31 de maio de 2009

Sustentabilidade: Compostagem e resíduos urbanos

O panorama de geração e processamento de resíduos é preocupante no Brasil. Entenda!

No Brasil, o quadro de geração e processamento de resíduos é preocupante, tanto pelas dimensões envolvidas como pela qualidade do processamento. O País produz 228 mil toneladas de lixo por dia, sendo 125 mil toneladas de resíduos domiciliares. Dos municípios, 61% mandam os resíduos sólidos para os lixões, corpos d"água ou terrenos baldios.

Só em São Paulo são aterradas 15 mil toneladas de resíduos por dia. Em algumas cidades do interior do Estado, o lixo é transportado por mais de 100 Km para disposição em aterros, provocando substancial aumento nas despesas relativas a este item, com repercussões negativas em outras ações sociais.

“Colapso do lixo atinge 67 cidades de São Paulo. São lixões que funcionam nas mesmas condições desde os anos 80, com toneladas de resíduos empilhadas de forma precária, próximas de rios e de áreas residenciais, a maior parte sem coleta seletiva ou reciclagem, segundo o governo estadual. Sem as correções exigidas desde 2007, esses locais ameaçam contaminar com chorume áreas de mananciais como a Represa Billings, usadas para abastecer 15% da Grande São Paulo, os lençóis freáticos do Vale do Ribeira e ares de preservação permanente no litoral e no oeste do Estado.” – Jornal O Estado de São Paulo, Caderno Metrópole, página C1, edição do dia 02/10/2008

A decomposição dos resíduos orgânicos nos aterros é uma grande fonte de emissão de gases, principalmente o metano, que é 20 vezes mais poluente que o gás carbônico, segundo a Agência de Proteção Ambiental Americana (EPA).

Os resíduos orgânicos dispostos em aterros, empilhados de forma precária, sem controle ou monitoramento, formam material putrefato resultando em líquidos responsáveis pela contaminação dos lençóis freáticos e cursos d’água, além de prejuízos à saúde pública, contaminando mananciais que abastecem as cidades. Mesmo em aterros controlados, a solução é inadequada, pois sua vida útil tende a esgotar-se cada vez mais rápido, frente a quantidades crescentes de lixo.

Como se percebe, a solução do grave problema passa pela redução e eliminação da destinação de resíduos para aterro, uma prática já adotada em países desenvolvidos. A reciclagem e reaproveitamento de resíduos têm um impacto significativo e importância estratégica para a solução dos problemas ambientais atuais.

A reciclagem reduz a exploração de recursos naturais, evita as emissões associadas à fabricação de matérias-primas, elimina etapas do processo produtivo original e reduz a disposição final dos aterros, pelo reaproveitamento do que antes era resíduo, reduzindo também os custos sociais da destinação de lixo. Os resíduos orgânicos, por sua vez, podem sofrer o processo de compostagem.

Restaurantes – uma solução

Os resíduos oriundos de restaurantes industriais geram 0,5 kg de restos de alimentos ao dia/pessoa, em média, se considerados os restos de pré-preparo, as sobras limpas (alimentos não consumidos) e as sobras no prato. O destino habitual desses restos, como cascas de frutas, legumes, saladas, caroços, restos de preparação de carne, peixe e frango, ossos, pó de café, casca de ovo etc, é o saco de lixo encaminhado ao aterro sanitário ou aos lixões sem controle.

Por exemplo, uma organização com 1000 colaboradores que utiliza restaurante industrial gera, em média, 500 kg de restos de alimentos por dia, o que representa 240 toneladas de restos de alimentos por ano, que poderiam ser reciclados com a compostagem.

Essa quantidade de resíduos, adequadamente compostada, poderá gerar até 100 toneladas de composto, que poderia ser usado em dezenas de hectares ou milhares de mudas, reduzindo o consumo dos adubos e fertilizantes convencionais, que é tanto econômico como ambientalmente dispendioso.

Do total de resíduos gerados nas cidades, 60% são resíduos orgânicos de origem industrial ou urbana que podem servir como matéria-prima para a produção de fertilizantes orgânicos.
Nos restaurantes de empresas, os restos de alimentos usualmente são destinados a caçambas de lixo juntamente com outros resíduos (varrição, sanitários, embalagens, etc). Mas, quando saem do restaurante para serem despejados no lixo estão praticamente separados e podem ser enviados para compostagem,se acondicionados separadamente.

Naturalmente, tanto o acondicionamento e o transporte exigirão cuidados devido ao peso do material, à umidade e o fato de ser perecível. Como não existem soluções padronizadas, a avaliação da situação (localização da empresa, quantidade gerada, freqüência, espaço disponível) é necessária para viabilizar a armazenagem, coleta, transporte e destinação.

Cada vez mais aumenta a receptividade e disposição dos empresários por soluções de reciclagem e compostagem, pois reduzem significativamente as remessas de resíduos para aterros, e geram um reaproveitamento dos restos de alimentos. Evidentemente, esse interesse é balizado pelas questões ambientais e pelas questões de custo nas empresas.

Aplicação Agrícola

Em médio prazo, a compostagem é um processo que tende a ter níveis de custos aceitáveis dentro dos padrões praticados atualmente, que dependerá do grau de expansão desse processo. O uso de resíduos orgânicos de origem urbana como matéria-prima para a produção de compostos ou fertilizantes orgânicos pode reduzir a importação de nutrientes.

Atualmente, o País importa cerca de 75% dos nutrientes consumidos na agricultura (fonte: Agroanalisys - Revista de Agronegócios da FGV,edição de fev/2009, pág. 20). Ainda são poucas as alternativas de empresas que produzem compostos agrícolas e substratos e que estão em condições de realizar o processo de compostagem de restos de alimentos próximas aos centros urbanos. São empresas que detém conhecimento técnico necessário, equipamentos e área. Porém, sua estrutura é simples, devido ao baixo valor agregado dos produtos que geram.

Por sua vez, a falta de uma política nacional de resíduos sólidos oficial dificulta estabelecer responsabilidades e o alcance das ações de controle e fiscalização ambiental e estímulo a soluções de uso sustentável dos recursos naturais.

No entanto, existe uma pressão de organizações, das empresas e da sociedade para atitudes responsáveis na solução deste problema cujos impactos são evidentes como as alterações climáticas. Por essas razões, há um forte potencial para soluções desse tipo nos próximos anos.

O Processo de Compostagem:

A compostagem retorna ao processo de produção vegetal, nutrientes que antes eram simplesmente perdidos. Esses nutrientes que a agricultura obtém de fertilizantes importados ou com uso intensivo de combustíveis fósseis, podem ser substituídos com vantagens com o composto produzido por resíduos orgânicos, além de minimizar a dependência de grandes empresas fornecedoras de adubos e outros insumos.

A tecnologia de compostagem, apesar de ser conhecida há muito tempo não é aproveitada em sua total potencialidade. Os processos de compostagem são desenvolvidos normalmente nos meios rurais, com resíduos de origem agrícola ou pecuária. As experiências de compostagem no meio urbano foram negativas ou pouco produtivas devido à péssima qualidade do resíduo, constituído principalmente de lixo coletado sem separação, que gerou um composto também de baixa qualidade e contaminado com vidros, plásticos e metais.

As empresas, instituições governamentais, não governamentais e os cidadãos têm um importante papel na redução do consumo desnecessário ou irresponsável. A reutilização de produtos e bens, buscando economizar e reciclar, transformando materiais em novos produtos, poderá romper o tradicional ciclo de esgotamento de recursos para incremento econômico para um novo paradigma de desenvolvimento com sustentabilidade ambiental.

A iniciativa de efetuar a compostagem proposta tem caráter inovador porque se coloca como alternativa ao processo atual de destinação de resíduos orgânicos. Exigirá a participação dos geradores para adequar localmente o processo de acordo com as condições humanas e físicas.

Esse processo exige coordenar todos os envolvidos (gerador, transportador e reciclador), desenvolver a separação e armazenagem adequada no gerador sem contaminação de outros resíduos (especialmente vidros ou plásticos), coleta e transporte específico, atender à legislação ambiental, e ter experiência, tecnologia e equipamentos necessários à compostagem.

Um esforço consciente e criativo e uma disposição de reconhecer o papel social das organizações poderão trazer uma reversão do quadro de destinação desses resíduos, através de soluções modernas e diferenciadas, trazendo benefícios ao meio ambiente no momento presente e às gerações futuras.

Ricardo Moutinho é sociólogo, com 20 anos de experiência em gestão de facilities, a 16 anos atuando na área de Meio Ambiente. Implantou e dirigiu projetos e serviços de gestão ambiental em mais de 20 empresas, nos últimos 6 anos, através da Nova Reciclagem.

Fonte: Agenda Sustentável (http://www.agendasustentavel.com.br/)

HSM Online
27/05/2009

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