Um novo estudo do Inpe mostra que caem sobre os brasileiros
57 milhões de descargas elétricas - recorde mundial
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PERIGO NO AR |
Na quarta-feira passada, dia 3, como vem ocorrendo invariavelmente desde o início do ano, choveu forte em São Paulo. Por volta das 19h30, o boliviano Papin Huascar, de 24 anos, tentava atravessar a pé a Praça Ilo Ottani, no bairro do Pari, na região central da cidade. Antes de concluir o trajeto de 100 metros, foi fulminado por um raio. Ele recebeu uma descarga de 20 000 ampères - que seria suficiente para fazer funcionar 1 000 chuveiros elétricos ao mesmo tempo. A corrente percorreu todo o seu corpo até atingir os tecidos cardíacos. O coração, um músculo cuja pulsação é controlada por impulsos elétricos, entrou em curto-circuito. Huascar morreu na hora. Foi uma cena trágica, mas que está longe de ser excepcional. Nos últimos dez anos, 1 321 pessoas foram abatidas por raios no país. Em média, ocorre uma morte desse tipo a cada três dias. A conclusão está em um levantamento que acaba de ser concluído por cientistas do Grupo de Eletricidade Atmosférica do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Até agora, ninguém havia dimensionado com precisão a letalidade dos raios no território nacional. Diz o professor Osmar Pinto Junior, responsável pela pesquisa: "Algumas estimativas falavam em cinquenta mortes por ano. Descobrimos que o número é quase o triplo".
O estudo do Inpe apurou também a situação em que as pessoas se encontravam quando foram atingidas pelos raios e descobriu algo surpreendente: 14% das vítimas estavam dentro de casa quando foram eletrocutadas. Parte delas vivia em residências humildes, de chão de terra batida. Os raios caíram fora das casas e a descarga elétrica se propagou pelo solo, até encontrar a sola dos pés das vítimas. Nos outros casos, o chão possuía revestimento de cimento capaz de isolar a corrente. A equipe do Inpe descobriu que nessas situações os raios atingiram antenas de TV ou fiações de luz e telefone e acharam nos cabos metálicos uma rota condutora para penetrar nas casas. As vítimas estavam perto de equipamentos ligados às fiações, como geladeiras, lâmpadas, aparelhos de televisão ou telefones - e foram eletrocutadas por indução. Todas essas mortes foram registradas em casas térreas ou em sobrados. Em prédios de apartamentos, onde normalmente há para-raios, não se tem notícia de mortes na última década.
O local mais seguro para se abrigar durante uma tempestade com raios é dentro de um veículo de transporte fechado, como um carro ou um ônibus. Mesmo que o raio caia diretamente sobre o veículo, a corrente elétrica não consegue penetrar em seu interior. Ela fica circulando pela lataria até se dissipar. Trata-se do efeito conhecido como "gaiola de Faraday", descoberto pelo físico inglês Michael Faraday, no século XIX: os campos elétricos são nulos no interior de objetos eletrificados. Os aviões também são muito seguros, lembra o professor Pinto Junior: "Cada um desses grandes jatos comerciais, como os da Boeing ou da Airbus, é atingido, em média, por três raios por ano. Não acontece absolutamente nada com quem está dentro. A energia é dissipada, como num automóvel". Mas é bom fazer um alerta: ficar perto de um carro ou de um pequeno avião, só que do lado de fora, durante uma tempestade, é perigosíssimo. Como eles têm grande massa de material metálico, que conduz eletricidade, atraem raios - que podem afetar quem estiver nas redondezas.
A situação em que alguém está mais suscetível a ser atingido por um raio é em campo aberto. Quando uma pessoa está num terreno vasto e descampado, torna-se o alvo perfeito para raios, por ser o ponto mais alto das imediações. Sempre que se começa a ouvir o som dos relâmpagos (o ouvido humano é capaz de percebê-lo a até 15 quilômetros), o melhor é procurar abrigo em um carro ou em uma construção até a chuva passar - e manter-se longe de fiações e aparelhos ligados a elas. Tomar medidas como essas não configura nenhum exagero, em especial no Brasil, onde caem 57 milhões de raios por ano - número mais alto que o de qualquer outro país.
Fonte: http://veja. abril.com. br/100210/ nao-basta- chuva-raios- p-074.shtml
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