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quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Abordagem ergonómica: gestos e posturas como factor de prevenção de riscos profissionais

É importante que o espaço em que se desenvolve o trabalho esteja em boas condições de segurança, seja confortável e funcional.

A Ergonomia é um método de trabalho que estuda o sistema Homem- Máquina, a partir de todas as perspectivas possíveis, para atingir o seu perfeito funcionamento. É uma maneira de pensar e planear o trabalho, organizando-o e adaptando-o às capacidades e necessidades da pessoa que o executa. É na sua expressão mais simples "uma ciência que trata de adaptar o trabalho ao trabalhador".

As pessoas são diferentes. Nem todas têm a mesma altura, a mesma força nem a mesma capacidade para suportar as cargas físicas e as tensões psíquicas. Estas características devem ser tidas em conta na hora de planificar e desenhar os postos de trabalho para que as máquinas, dispositivos e utensílios sejam adaptáveis e utilizados com o máximo de conforto, segurança e eficácia.

De facto, a ergonomia já há muitos anos faz pare da vida moderna; desde o mais simples objecto de uso quotidiano, ao mais sofisticado equipamento ou máquina foram objecto de estudos e obedeceram a princípios ergonómicos.
Quando não são observados esses princípios podem surgir riscos para a segurança e a saúde das pessoas que utilizam essas máquinas e equipamentos, relacionados principalmente com:
Dimensões corporais (altura de trabalho, o assento, o espaço previsto para os movimentos e as ferramentas adaptadas à anatomia da mão);
Posturas (possibilidade de alterar a posição sentada e em pé, redução de esforços e de tensão muscular estática prolongada);
Esforços musculares (devem ser adaptados às capacidades físicas do trabalhador, previsão de fontes auxiliares de energia no sistema de trabalho);
Movimentos corporais (ajustadas as amplitudes, velocidades e ritmos na execução de movimentos);
Órgãos de comando (forma e disposição de acordo com a manobra e o operador, devem ser facilmente identificáveis, com sinalização clara e no caso de comandos críticos devem ser protegidos contra manobras não intencionais).
No que respeita à concepção do envolvimento do trabalho há que ter em conta que as dimensões do local de trabalho devem ser adequadas ao número de pessoas, à intensidade do trabalho físico, às condições técnicas bem como a iluminação, a renovação do ar, o ambiente sonoro, as vibrações e choques mecânicos, a exposição do trabalhador a matérias perigosas e radiações nocivas, etc.

Os princípios ergonómicos aplicam-se também a aspectos temporais do trabalho, horários, pausas, ritmos, formas organizativas, enriquecimento de tarefas para evitar o stress e controlar a carga psíquica e mental do trabalho.
A Ergonomia, para além de humanizar o trabalho pode contribuir para uma maior rentabilidade do mesmo.
Os critérios ergonómicos aplicados desde a fase do projecto, na estruturação do trabalho e nas condições de realização das tarefas, constituem importante medida preventiva para evitar doenças contraídas pela permanência prolongada no posto de trabalho.

Curiosidades:
Correntes em Ergonomia - Os debates e as reflexões a que se tem assistido nas últimas décadas conduziram à preocupação da complementaridade dos fundamentos das duas principais correntes em ergonomia.
A Corrente Anglo-Saxónica, a mais antiga, e hoje essencialmente americana, centra-se nos “factores humanos”.

Esta corrente orienta a ergonomia para a concepção e/ou reconcepção (transformação) de dispositivos técnicos (máquinas, utensílios, postos de trabalho, écrans, programas, ferramentas, etc.), defendendo (preconizando) uma ergonomia baseada nas características dos homens (antropométricas, fisiológicas, cognitivas, etc.). Exemplo: Definem a altura da cadeira e da mesa, as características do assento e do encosto, o tamanho ou a forma dos símbolos a colocar no écran do computador para que sejam lidos pelos utilizadores sem dificuldade.

A Corrente Europeia, a mais recente, e essencialmente francófona, centra-se na actividade do homem do trabalho; apoia-se na análise ergonómica do trabalho real para a concepção e/ou transformação dos sistemas de trabalho; considera a ergonomia como o estudo específico do trabalho humano com vista a melhorá-lo. Exemplo: preocupa-se não apenas com o assento ou com o écran considerados isoladamente mas especialmente com o conjunto da situação de trabalho em questão; entende que a fadiga do trabalhador e os seus erros só podem ser realmente explicados e minorados se a tarefa e a forma como ela é realizada (actividade) forem analisadas pormenorizadamente nos seus locais específicos.
Podemos dizer que a corrente centrada no factor humano considera o homem como uma componente do sistema de trabalho e que a corrente centrada na actividade humana considera o homem não só como componente mas também como um actor desse mesmo sistema.

Na prática da Ergonomia há 2 fases:
1ª Análise Ergonómica - consiste na identificação e compreensão das relações existentes entre as condições organizacionais, técnicas, sociais e humanas que determinam a actividade de trabalho e os efeitos desta sobre o operador e o sistema produtivo.
2ª Intervenção Ergonómica - consiste na operacionalização de planos de acção resultantes da análise ergonómica. Pode situar-se a diferentes Domínios de actuação: concepção e/ou reformulação, formação profissional, higiene, segurança e saúde ocupacional.
Conceber e/ou transformar um posto de trabalho de acordo com os critérios ergonómicos implica, pois, fazer uma análise detalhada da tarefa e da actividade.

Basicamente há dois tipos de postos de trabalho: sentado e de pé, embora por vezes surja a necessidade de um posto misto.

Posição de Trabalho - de pé
O trabalho em pé, comum em alguns sectores industriais, comércio, serviços, implica só por si uma sobrecarga dos músculos das pernas, costas e ombros, mas tem também outros inconvenientes entre os quais se salientam:
a circulação sanguínea nas pernas faz-se mais lentamente o que pode provocar o aparecimento de varizes;
o repouso do corpo assenta numa superfície muito pequena e a manutenção prolongada do equilíbrio conduz a uma tensão muscular constante.
Como medidas preventivas para diminuir o esforço, a consequente fadiga e evitar que o trabalhador adopte posturas forçadas e incómodas, é aconselhável:
o plano de operações e os elementos de accionamento e controlo e as ferramentas devem encontrar-se na área de trabalho;
a área de trabalho deve ser suficientemente ampla para garantir a mudança de posição dos pés e repartir o peso das cargas;
a altura a que se deve realizar o trabalho, é, em regra geral, ao nível dos cotovelos do utilizador variando conforme o esforço físico e de precisão dos movimentos exigidos;
é importante que esta posição possa alternar-se com a posição sentado, ou com movimentos diversos e pausas frequentes.

Posição de Trabalho - sentado
A posição de trabalho sentado é mais cómoda porque aumenta a superfície de apoio do operador, no entanto pode tornar-se incómoda se for incorrecta e prolongada, provocando dores nas costas, nos ombros, no pescoço e até problemas de circulação sanguínea.
Para evitar estes riscos é preciso dispor de assentos apropriados, saber sentar-se e também ter em conta outras regras e medidas preventivas:
o plano de trabalho deve fazer um ângulo aproximado de 90 graus com a coluna vertebral do operador;
o espaço para as pernas deve ser suficientemente amplo para garantir liberdade de movimentos;
o assento deve ser regulável em profundidade e altura para se poder apoiar a região lombar, os pés bem assentes no pavimento ou num estrado e ter área suficiente para assegurar uma boa estabilidade e conforto;
o encosto deve ser também regulável para apoiar as costas no local mais vulnerável (altura da cinta);
o tampo deve ter profundidade suficiente para evitar dificuldades ao nível da articulação dos joelhos;
o apoio dos pés deve ter área suficiente para um posicionamento confortável e ser regulável em altura e inclinação de acordo com a estatura do operador e as características do posto de trabalho.
Por último, não esquecer que é muito benéfico levantar da cadeira de vez em quando, caminhar e fazer exercícios físicos de relaxe.
DOENÇAS E LESÕES PROFISSIONAIS
O stress físico e o stress psíquico manifestam-se muitas vezes através de problemas músculo-esqueléticos.
Existe clara evidência de que muitas perturbações músculo-esqueléticas são causadas pelo trabalho. As causas encontradas estão relacionadas com a concepção dos sistemas de trabalho.

Os principais factores de risco são:
Aspectos físicos do trabalho:
- Transporte manual de cargas;
- Posturas inadequadas;
- Movimentos repetitivos;
- Aplicação de força excessiva com as mãos;
- Pressão mecânica directa sobre os tecidos humanos;
- Exposição a vibrações;
- Ambiente térmico de trabalho.
Organização do trabalho:
- Ritmos de trabalho;
- Trabalho repetitivo;
- Trabalho monótono;
- Fadiga;
- Factores psicossociais.
Grupos de risco:
Os dados disponíveis na Europa, apontam para a existência de algumas tarefas com maior risco de perturbações músculo-esqueléticas, nomeadamente:
- Desempenho de tarefas manuais;
- Desempenho de tarefas repetitivas, maioritariamente asseguradas por mulheres.
Também são especialmente vulneráveis aos factores de risco:
- Trabalhadores mais idosos;
- Trabalhadores com trabalho precário.
A patologia músculo-esquelética, resultante de traumas repetidos sobre determinadas estruturas orgânicas, tem crescido entre nós de forma exponencial.
Este facto deve-se:
Ao aparecimento de novas indústrias que utilizam tecnologia de ponta e trabalho sequencial em linha; pequenos movimentos executados com uma cadência muito rápida com consequente sobrecarga dinâmica para grupos musculares dos membros superiores e sobrecarga estática para os ombros e coluna.
Recrutamento de centenas de jovens que iniciam aqui o seu primeiro trabalho, predominando o sexo feminino, e que terminam ou interrompem os estudos secundários.
A cobertura obrigatória destes trabalhadores pela medicina do trabalho.
Factores psico-sociais: Stress, Não realização profissional, Monotonia e repetitividade das tarefas.
Quadros Clínicos da patologia músculo-esqueléticas com doença ocupacional mais frequente:
- ombro doloroso;
- tendinite do trapézio;
- epicondilite du Quervain;
- tendinites dos exteriores do punho;
- tendinites dos flexores do punho;
- síndrome do cubital;
- síndrome do mediano;
- síndroma do radial;
- osteonecroses - kienboeck, koehler, etc;
- low-back-pain.
O diagnósticos da doença profissional nem sempre é fácil; calcula-se que 60 a 95% das doenças profissionais não são diagnósticadas.
A história clínica é o elemento fundamental e nesta, a história profissional é o elemento preponderante para o diagnóstico da doença profissional.
MOVIMENTAÇÃO DE CARGAS E PERTURBAÇÕES MÚSCULO ESQUELÉTICAS
A coluna vertebral sustenta o tronco, suporta a cabeça, envolve e protege a espinal medula e participa simultaneamente em cada movimento dos membros e do corpo.
Todos os anos, milhões de trabalhadores são afectados por doenças relacionadas com a coluna vertebral e perturbações músculo-esqueléticas que atingem músculos, tendões, nervos e ossos causando grande número de faltas ao trabalho.
Os riscos das perturbações músculo-esqueléticas são agravados por vários factores nomeadamente o levantamento manual de cargas, movimentos incorrectos, repetitivos, cadência de trabalho e vibrações. Estes problemas são comuns a todos os sectores e ramos de actividade.
Na movimentação de cargas, o trabalhador adopta frequentes vezes posturas desfavoráveis e o uso de força excessiva, sobretudo em actividades relacionadas com a agricultura, o trabalho hospitalar e de uma maneira geral na armazenagem e transportes. Aqui podem surgir graves problemas de saúde motivados por:
traumatismos e lesões na coluna;
desgaste nas vértebras e articulações;
distúrbios nos membros superiores e inferiores;
lesões musculares, tendões, ligamentos;
problemas cardiovasculares.

Estas situações, dolorosas para os trabalhadores e dispendiosas para os empregadores, devem evitar-se, na medida do possível, usando auxiliares mecânicos e técnicas adequadas de levantamento manual de cargas.
Primeiramente é preciso ter em conta as características da carga, o esforço físico exigido e as características do trabalhador.

As técnicas de levantamento de cargas têm como princípio básico manter as costas direitas e fazer o esforço com as pernas segundo as seguintes normas:
aproximar-se o mais possível do objecto a levantar e apoiar os pés com firmeza ligeiramente afastados;
abaixar-se dobrando os joelhos, mantendo os pés afastados e as costas direitas;
agarrar fortemente a carga, mantendo-a próxima do corpo, de forma a que não deslize e caia;
elevar o objecto endireitando as pernas mantendo-o apoiado contra o corpo e as costas direitas;
a cabeça deve permanecer levantada e a carga deve distribuir-se entre as duas mãos, sempre que possível;
verificar se a carga não é demasiado pesada ou difícil de manipular por uma só pessoa; À menor dúvida deve-se pedir auxílio e coordenar os esforços com um parceiro;
para o transporte de objectos com arestas, materiais inflamáveis ou corrosivos, é recomendada a utilização de Equipamentos de Protecção Individual (luvas, aventais, óculos,...);
uma carga nunca deve ser transportada à altura dos olhos, pois dificulta a visibilidade provocando choques e quedas;
finalmente, todas as pessoas que efectuam movimentação manual de cargas devem ter formação de base sobre técnicas de movimentação e treino para evitar posturas e movimentos perigosos.
Fonte: Cosmo Palasio de Moraes Jr

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