Brasília – A morte  prematura do cantor Michael Jackson, 50 anos, possivelmente devido ao consumo  excessivo de remédios, serve de alerta para quem costuma abusar de cápsulas e  comprimidos sem prescrição adequada – hábito comum no Brasil. Segundo  levantamento da Associação Brasileira das Indústrias Farmacêuticas (Abifarma),  80 milhões de pessoas confessam ser adeptas da automedicação no país. A  consequência é que, por ano, 20 mil brasileiros morrem vítimas do mau uso das  drogas. Outro dado alarmante vem do Centro de Assistência Toxicológica (Ceatox)  da Universidade de São Paulo (USP): 40% das internações por intoxicação ocorrem  pelo mesmo motivo. 
"Seja por orientação da mãe, do vizinho, do  balconista da farmácia, ou mesmo do ‘Doutor Google’, é muito elevado o  percentual de brasileiros que se automedicam. O uso abusivo de medicamentos, sem  orientação médica, certamente poderá levar o indivíduo a adoecer. Vários serão  os problemas, não só cardiológicos, mas também agravos renais, no trato  digestivo, dermatológicos e sanguíneos", enumera o cardiologista do Hospital  Brasília Anderson Rodrigues.
Diretora-secretária da Associação  Brasileira de Alergia e Imunopatologia, em São Paulo, a alergologista Fátima  Rodrigues Fernandes conta que é comum receber no ambulatório do Hospital  Infantil Sabará, onde trabalha, pessoas com alergia e problemas estomacais  provocados por remédios. Ela explica que todo remédio tem implicações negativas  – as chamadas reações adversas descritas na bula. Porém, o uso errado ou abusivo  pode despertar no organismo males imprevisíveis, como inchaços, asmas, úlceras,  hemorragias e até mesmo choque anafilático. "Além disso, é preciso alertar as  pessoas que, ao se automedicarem, elas correm o risco de mascarar uma doença que  está por trás dos sintomas", lembra.
A combinação de medicamentos sem  indicação médica é outro problema comum. Além do fato de um remédio poder anular  o efeito do outro, pesquisas mostram que a interação desencadeia diversos danos  ao organismo. Remédios para emagrecer associados a antidepressivos, por exemplo,  são capazes de provocar cardiopatias. A fluoxetina, usada no combate à  depressão, inibe as enzimas da sibutramina, princípio dos emagrecedores. Com  isso, há aumento da pressão arterial e aceleração dos batimentos cardíacos. A  dupla formada por inibidores de apetite e ansiolíticos, prescritos para diminuir  a ansiedade, além de desencadear taquicardias, pode mesmo levar o paciente a ter  psicoses e esquizofrenia.
CORAÇÃO No caso de Michael  Jackson, o cantor, de acordo com seu advogado, Brian Oxman, tomava  indiscriminadamente o remédio Demerol, um analgésico opioide que age diretamente  no sistema nervoso central. Também faria uso combinado com antidepressivos e  ansiolíticos. Por causa da mistura explosiva, teria sofrido um infarto que levou  à parada cardíaca.
O médico José Carlos Nicolau, cardiologista e diretor  da Unidade Clínica de Coronariopatias Agudas do Instituto do Coração do Hospital  das Clínicas da Universidade de São Paulo (Incor), diz que todo medicamento pode  afetar o coração. "Mesmo os receitados para quem tem problemas cardíacos podem  apresentar efeitos colaterais", diz. Porém, ele ressalta que as pessoas não  precisam entrar em pânico e deixar o tratamento de lado. "Se o indivíduo toma  qualquer remédio, o médico está ciente dos efeitos adversos. Se toma a medicação  sob supervisão e acompanhamento médico, a chance de ter um problema diminui  bastante", diz.
O problema é que, de acordo com o cardiologista, além de  comprar remédios sem prescrição, muitas pessoas aumentam, por conta própria, a  dose ministrada. "Nesses casos, qualquer medicação pode ser muito grave", diz.  Mesmo remédios tidos como inocentes podem levar a cardiopatias. Um estudo  publicado neste ano pelo Archives of Internal Medicine, da Associação Médica  Americana, concluiu que tanto as drogas narcóticas – como a morfina – quanto os  analgésicos comprados até mesmo em supermercados – caso do paracetamol – podem  aumentar a pressão arterial e elevar o risco de infarto. 
"O ácido  acetilsalicílico (Aspirina) é uma medicação importantíssima para a prevenção de  infartos e de derrames. Mas, em pacientes asmáticos, poderia desencadear crises  agudas, raramente tão intensas que evoluam para paradas respiratórias",  exemplifica o médico Anderson Rodrigues. Segundo o cardiologista, sem orientação  médica, os remédios mais prejudiciais ao organismo são os  antiinflamatórios, seguidos por analgésicos, antidepressivos, sedativos,  hormônios e medicações para emagrecer.
Uma das hipóteses levantadas em torno da morte do cantor Michael Jackson foi  um infarto seguido de parada cardíaca devido ao uso excessivo do demerol, um  potente analgésico opioide. O astro pop, de acordo com seu advogado, Brian  Oxman, abusava do remédio e também tomava antidepressivos e ansiolíticos. Saiba  quais são os tipos de analgésico mais comuns e entenda a diferença entre infarto  e parada cardíaca. 
 
 
 
Analgésicos não opioides
Também chamados drogas  antiinflamatórias não-esteroidais, são os mais comuns utilizados no combate  à dor porque, além da baixa toxicidade, oferecem riscos bastante raros de  problemas cardiorrespiratórios, a não ser quando ministrados em altas  doses. Eles agem no local onde a dor se localiza, por meio da inibição das  enzimas cicloxigenases, que são as causadoras de inflamações e dores. Seus  efeitos são limitados e, em casos de dores fortes, ineficazes. Também não  provocam sedação. As principais reações adversas são náuseas, vômitos, gastrites  e úlceras. Além disso, há relatos de alterações renais e hepáticas. Exemplos de  drogas: ácido acetilsalicílico, paracetamol e dipirona  
 
 
 
Analgésicos opioides
Atuam diretamente no Sistema Nervoso  Central, ligando-se aos receptores de opioides micra 1 e 2, kappa, delta e  sigma. São medicamentos mais fortes, indicados para dores intensas. Como possuem  diversas reações, só podem ser comprados com retenção de receita médica. Os  analgésicos opioides têm efeito sedativo e podem causar sonolência, excitação,  euforia, queda de pressão, confusão mental até parada cardiorrespiratória e  overdose fatal. Cientistas também estudam o potencial de dependência química  provocada pelos opioides. Exemplos de drogas: codeína, morfina e metadona 
 
 
 
Analgésicos tópicos
São aplicados diretamente no local da  dor e têm ação tópica. Apresentam uma melhora temporária, por isso são indicados  para dores mais leves, provocadas por traumas e luxações. Ainda assim, podem  apresentar efeitos colaterais, como urticárias e outras alergias. Geralmente,  são em forma de spray e pomadas e dispensam receituário médico para venda.  Exemplos de drogas: dicoflan e lidocaína 
 
 
 
Diferenças 
 
Infarto e parada cardíaca
Casos de pessoas jovens que  tiveram infartos, como pode ter ocorrido com o cantor Michael Jackson, de 50  anos, não são incomuns. No Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da  Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, dos 2.751 infartos atendidos  nos últimos dez anos, 17,5% eram de pessoas com até a idade do ídolo pop. Entre  os homens, que infartam mais cedo que as mulheres, o percentual chegou a 20%.  
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