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quarta-feira, 1 de julho de 2009

Saude: Os riscos da automedicação

Cerca de 80 milhões de brasileiros tomam remédio por conta própria. Especialistas advertem que danos à saúde podem ser graves e até fatais
Paloma Oliveto


Brasília – A morte prematura do cantor Michael Jackson, 50 anos, possivelmente devido ao consumo excessivo de remédios, serve de alerta para quem costuma abusar de cápsulas e comprimidos sem prescrição adequada – hábito comum no Brasil. Segundo levantamento da Associação Brasileira das Indústrias Farmacêuticas (Abifarma), 80 milhões de pessoas confessam ser adeptas da automedicação no país. A consequência é que, por ano, 20 mil brasileiros morrem vítimas do mau uso das drogas. Outro dado alarmante vem do Centro de Assistência Toxicológica (Ceatox) da Universidade de São Paulo (USP): 40% das internações por intoxicação ocorrem pelo mesmo motivo.

"Seja por orientação da mãe, do vizinho, do balconista da farmácia, ou mesmo do ‘Doutor Google’, é muito elevado o percentual de brasileiros que se automedicam. O uso abusivo de medicamentos, sem orientação médica, certamente poderá levar o indivíduo a adoecer. Vários serão os problemas, não só cardiológicos, mas também agravos renais, no trato digestivo, dermatológicos e sanguíneos", enumera o cardiologista do Hospital Brasília Anderson Rodrigues.

Diretora-secretária da Associação Brasileira de Alergia e Imunopatologia, em São Paulo, a alergologista Fátima Rodrigues Fernandes conta que é comum receber no ambulatório do Hospital Infantil Sabará, onde trabalha, pessoas com alergia e problemas estomacais provocados por remédios. Ela explica que todo remédio tem implicações negativas – as chamadas reações adversas descritas na bula. Porém, o uso errado ou abusivo pode despertar no organismo males imprevisíveis, como inchaços, asmas, úlceras, hemorragias e até mesmo choque anafilático. "Além disso, é preciso alertar as pessoas que, ao se automedicarem, elas correm o risco de mascarar uma doença que está por trás dos sintomas", lembra.

A combinação de medicamentos sem indicação médica é outro problema comum. Além do fato de um remédio poder anular o efeito do outro, pesquisas mostram que a interação desencadeia diversos danos ao organismo. Remédios para emagrecer associados a antidepressivos, por exemplo, são capazes de provocar cardiopatias. A fluoxetina, usada no combate à depressão, inibe as enzimas da sibutramina, princípio dos emagrecedores. Com isso, há aumento da pressão arterial e aceleração dos batimentos cardíacos. A dupla formada por inibidores de apetite e ansiolíticos, prescritos para diminuir a ansiedade, além de desencadear taquicardias, pode mesmo levar o paciente a ter psicoses e esquizofrenia.

CORAÇÃO No caso de Michael Jackson, o cantor, de acordo com seu advogado, Brian Oxman, tomava indiscriminadamente o remédio Demerol, um analgésico opioide que age diretamente no sistema nervoso central. Também faria uso combinado com antidepressivos e ansiolíticos. Por causa da mistura explosiva, teria sofrido um infarto que levou à parada cardíaca.

O médico José Carlos Nicolau, cardiologista e diretor da Unidade Clínica de Coronariopatias Agudas do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (Incor), diz que todo medicamento pode afetar o coração. "Mesmo os receitados para quem tem problemas cardíacos podem apresentar efeitos colaterais", diz. Porém, ele ressalta que as pessoas não precisam entrar em pânico e deixar o tratamento de lado. "Se o indivíduo toma qualquer remédio, o médico está ciente dos efeitos adversos. Se toma a medicação sob supervisão e acompanhamento médico, a chance de ter um problema diminui bastante", diz.

O problema é que, de acordo com o cardiologista, além de comprar remédios sem prescrição, muitas pessoas aumentam, por conta própria, a dose ministrada. "Nesses casos, qualquer medicação pode ser muito grave", diz. Mesmo remédios tidos como inocentes podem levar a cardiopatias. Um estudo publicado neste ano pelo Archives of Internal Medicine, da Associação Médica Americana, concluiu que tanto as drogas narcóticas – como a morfina – quanto os analgésicos comprados até mesmo em supermercados – caso do paracetamol – podem aumentar a pressão arterial e elevar o risco de infarto.

"O ácido acetilsalicílico (Aspirina) é uma medicação importantíssima para a prevenção de infartos e de derrames. Mas, em pacientes asmáticos, poderia desencadear crises agudas, raramente tão intensas que evoluam para paradas respiratórias", exemplifica o médico Anderson Rodrigues. Segundo o cardiologista, sem orientação médica, os remédios mais prejudiciais ao organismo são os antiinflamatórios, seguidos por analgésicos, antidepressivos, sedativos, hormônios e medicações para emagrecer.


Uma das hipóteses levantadas em torno da morte do cantor Michael Jackson foi um infarto seguido de parada cardíaca devido ao uso excessivo do demerol, um potente analgésico opioide. O astro pop, de acordo com seu advogado, Brian Oxman, abusava do remédio e também tomava antidepressivos e ansiolíticos. Saiba quais são os tipos de analgésico mais comuns e entenda a diferença entre infarto e parada cardíaca.

Analgésicos não opioides
Também chamados drogas antiinflamató
rias não-esteroidais, são os mais comuns utilizados no combate à dor porque, além da baixa toxicidade, oferecem riscos bastante raros de problemas cardiorrespiratórios, a não ser quando ministrados em altas doses. Eles agem no local onde a dor se localiza, por meio da inibição das enzimas cicloxigenases, que são as causadoras de inflamações e dores. Seus efeitos são limitados e, em casos de dores fortes, ineficazes. Também não provocam sedação. As principais reações adversas são náuseas, vômitos, gastrites e úlceras. Além disso, há relatos de alterações renais e hepáticas. Exemplos de drogas: ácido acetilsalicílico, paracetamol e dipirona

Analgésicos opioides
Atuam diretamente no Sistema Nervoso Central, ligando-se aos receptores de opioides micra 1 e 2, kappa, delta e sigma. São medicamentos mais fortes, indicados para dores intensas. Como possuem diversas reações, só podem ser comprados com retenção de receita médica. Os analgésicos opioides têm efeito sedativo e podem causar sonolência, excitação, euforia, queda de pressão, confusão mental até parada cardiorrespirató
ria e overdose fatal. Cientistas também estudam o potencial de dependência química provocada pelos opioides. Exemplos de drogas: codeína, morfina e metadona

Analgésicos tópicos
São aplicados diretamente no local da dor e têm ação tópica. Apresentam uma melhora temporária, por isso são indicados para dores mais leves, provocadas por traumas e luxações. Ainda assim, podem apresentar efeitos colaterais, como urticárias e outras alergias. Geralmente, são em forma de spray e pomadas e dispensam receituário médico para venda. Exemplos de drogas: dicoflan e lidocaína

Diferenças

Infarto e parada cardíaca
Casos de pessoas jovens que tiveram infartos, como pode ter ocorrido com o cantor Michael Jackson, de 50 anos, não são incomuns. No Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, dos 2.751 infartos atendidos nos últimos dez anos, 17,5% eram de pessoas com até a idade do ídolo pop. Entre os homens, que infartam mais cedo que as mulheres, o percentual chegou a 20%.

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